Plotino entrou num beco sem saída. De modo que o seu conceito do livre-arbítrio começa a cessar. O conceito em si mesmo deve ser atribuído à alguma coisa. Diz: "Esse livre-arbítrio que nos é concedido, a qual autoridade deve ser atribuído?" Onde por autoridade, ou poder, ele indica o instinto ou a um impulso qualquer. Plotino, depois de um raciocínio decide a quem confiar o livre-arbítrio: "Não, somente ao raciocínio exato e à aspiração perfeita." Plotino deve elevar-se a uma verdade a qual possa se referir. O raciocínio exato, ou a aspiração perfeita, nada mais são a não ser manifestações de uma verdade pré-definida e à qual o indivíduo deve se referir. Trata-se de uma situação tão trágica que leva Plotino a conjecturar o que é perfeito e a respeito do que é exato, onde o raciocínio está na origem do livre-arbítrio.
Plotino rebaixa o livre-arbítrio à dimensão da razão da qual ele é o portador, e ainda estende essa sua razão a todo o universo. O livre-arbítrio constitui manifestação da vontade. Seja qual for a espécie à qual adere, e em qualquer nível que nós podemos defini-la. A ação de vontade é ação arbitrada, deliberada pelo sujeito, dentro da objetividade em que se manifesta. A ação deliberada ( ou também a renúncia à ação deliberada que, mesmo assim, torna-se ação em si mesma) torna-se uma expressão do sujeito, propriamente dito, no mundo em que ele vive. É exatamente por meio dessa manifestação que permite a Plotino remontar a uma sentença, à uma decisão incondicional dirigida ao Uno universal.
Plotino manifesta o desejo de se tornar o Ser incondicionado, absoluto. Quando ele afirma: "Mas como podemos ser senhores absolutos, de tudo, se somos arrastados?" É uma pergunta obsessiva que ele faz, uma pergunta neurótica que se instala nele. Todos nós estamos no interior de condições. Todos nós sofremos a ação de um número infinito de vontades, muitas das quais pertencem a um incognoscível que nunca conseguiremos alcançar. Não obstante, o problema não reside em ser senhores absolutos das condições, mas é o de desenvolver as nossas determinações dentro das condições nas quais vivemos. Por isso, o livre-arbítrio não é determinado pela nossa capacidade de possuir as coisas, e com ele assenhorear-se de um destino hipotético, mas o livre-arbítrio constitui a capacidade para nos organizarmos dentro das condições onde fizemos florescer a nossa Consciência e o nosso Discernimento.
Plotino ainda acrescenta:
"De fato, o desejo, não é o senhor da coisa em relação à qual sente-se como sendo o abstrato (nota deste tradutor: Plotino aqui com "o abstrato" refere-se ao intangível). Como poderia, no final das contas, depender dele mesmo quem tem origem em um outro, e tem nesse outro o seu princípio e extrai dele a sua própria natureza?"
De fato, nas suas palavras, temos a indicação de ser proprietários, isto é possuidores de alguma coisa e, ainda, o ser dependente de alguma coisa da qual se tem origem e na qual está o princípio em si mesmo. Se introduzimos o conceito de ser senhores absolutos da ação, então estamos também introduzindo o conceito do Poder de Possuir, como o causante das coisas em relação à vida do indivíduo. O indivíduo que possui constitui, talvez, a degeneração do pensamento filosófico em sua totalidade, que se opõe ao indivíduo que vive!
O conceito de VIVER, em contraste ao conceito de POSSUIR, é um conceito que Plotino desconhece. Em suma, digamos que o livre-arbítrio pertence aos Seres que vivem e não pertence aos Seres que possuem, porque os Seres que possuem nada mais são a não ser objetos possuídos e, por isso, renunciam ao exercício do livre-arbítrio para se aterem a uma verdade (a daquele que é o possuidor) [nota deste tradutor: possuidor aqui indica "um deus absoluto e criador de tudo] que foi anteriormente determinada.
Os filhos de GAIA, seja qual for a forma deles, são portadores do LIVRE ARBÍTRIO, mas eles não possuem a coisa. MANIFESTAM O LIVRE-ARBÍTRIO nas suas ações. As ações, dos filhos de GAIA, constituem a sua manifestação do livre-arbítrio. Ao que se refere o Livre-Arbítrio? Refere-se às declarações por meio das quais a Autoconsciência afirma, na objetividade em que ela vive: "EU EXISTO!"
O Livre-Arbítrio é a manifestação da Autoconsciência no mesmo momento em ele afirma-se, na objetividade existente. na sua própria existência e com o seu direito exclusivo à expansão. Nós, como Seres Humanos, não temos o direito de discutir com ardil sobre a qualidade ou a quem pertence do Livre-Arbítrio porque, diferentemente do quanto afirma Plotino, nós não somos os senhores absolutos ou os juízes da existência, mas fazemos parte da existência, e por isso não podemos argumentar a respeito das escolhas do Ser Musaranho, porque as escolhas do Ser Musaranho não pertencem às escolhas do Ser Humano, mas pertencem ao complexo de escolhas do Ser Natureza.
N.B. As citações de Plotino são retiradas da tradução de Giuseppe Faggian - ed. Bompiani!
Redigido em Marghera, aos 23 de julho de 2001
A tradução foi publicada 14.01.2018
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
A ideologia neoplatônica é a mãe ideológica do cristianismo. O pai ideológico é o hebraísmo. O cristianismo não nasceu das "pregações de Jesus", mas de uma elaboração ideológica dos neoplatônicos para pôr fim à corrente messiânica e apocalíptica, que estava colocando em risco a sociedade romana. Como frequentemente tem acontecido, tal remédio pode ser mais destruidor do que o próprio mal.