Cod. ISBN 9788827811764
A Teoria da Filosofia Aberta: sesto volume
A Teoria da Filosofia Aberta, Platão
Índice dos argumentos:
A existência de Atenas legitima o pensamento de que a Atlântida tenha existido. Hefesto e Atena, deuses proprietários de Atenas. O engano acerca da natureza dos Deuses. Os cães de guarda dos atenienses: os guerreiros Platão e a invenção do "paraíso terrestre" em uma idade de Ouro. A cidade ideal de Platão no Crítias. As riquezas do regime da Atlântida. A riqueza que se produz sozinha.
Os esotéricos estão em uma busca perene de um patrão, o qual possa comprovar as suas convicções absolutistas. Que seja o deus cristão, a deusa, o demiurgo ou "a força", o conceito lançado pelo filme "Guerra nas Estrelas", que nada mais é a não ser as ideias positivistas de Buckner (vide Força e Matéria), ou o Uno dos neoplatônicos, enunciado pelo Uno platônico, nada disso importa. Para o esotérico o importante é que se possa afirmar a existência de uma superpotência da qual seja extraído o reconhecimento do seu domínio, e do seu super-poder.
O esoterismo não é senão uma reconstituição da ideia cristã do "super-poder" de Jesus oferecido aos seguidores sob a forma de uma relação pessoal com uma entidade que, conforme os esotéricos, cristãos, hebraicos, islamitas e budistas governaria o mundo de vários modos.
A ideia do deus-patrão, no caso em exame Poseidon, é uma invenção de Platão ou, se preferirem, Platão eleva a ideia do deus-patrão a um dominador do mundo. Em Platão há a ideia do demiurgo organizador do mundo e, portanto, proprietário do mundo; depois há a ideia do Uno como um todo, que analisada em várias condições "lógicas", conduz tanto à interpretação, neoplatônica, do Uno como inteligência cósmica, como conduz à ideia do Uno como o nada, a ausência, da cognição; enfim, há a ideia do deus-patrão pessoal , patrão da sociedade, uma ideia que é a fonte de onde surgem o rei e os ditadores, como para a apreensão da Atlântida por parte de Poseidon.
Platão elabora todo o sistema ideológico com o qual sujeitar o homem, anular a sua inteligência, escarnecer do que o homem tornou-se, veio a ser, e portanto tornar a vida do homem uma vida miserável, de modo a levar o homem a uma proporção abominável, associando a vida humana a um destino ligado à reencarnação.
A invenção da Atlântida pertence a Platão para confirmar a ditadura, o absolutismo, contra a democracia.
se existe Atenas, então o que impede de pensar que há muito tempo a Atlântida tenha existido?
Platão escreve no diálogo Crítias às páginas 1421 - 1422:
- Preliminarmente, não esqueçamos que passaram-se 9 mil anos desde quando estourou a guerra entre os habitantes das terras situadas além das colunas de Hércules e as que estão deste lado. As fases de tal conflito agora são narradas em suas particularidades.
Comandando uma coalizão havia a nossa Cidade que, de acordo com o que se diz, suportou o peso de toda a guerra. Na liderança da outra havia o rei da ilha de Atlântida, que transmitiu através dos tempos ser ela, então, uma ilha das mais vastas da Líbia e da Ásia, enquanto nos nossos dias, soterrada pela ação dos cataclismos, foi reduzida à esterilidade de um pântano lamacento que, interpondo-se como um obstáculo, impede a rota entre as nossas terras e o oceano aberto. As inumeráveis tribos bárbaras, e as diversas estirpes helênicas, que então haviam, as encontraremos e nos aparecerão uma por uma, claramente, em conformidade com a sequência do discurso. Mas os atenienses e os seus adversários de então, entre o quais mediu-se a força e arrostaram-se as suas instituições, necessário se faz que falo-vos desde já que estamos nos inícios; precisamente devido isto, enfim, que é melhor antecipar a discussão. -
Do que está falando Platão?
Ele está fantasiando, está inventando um conto que deseja difundir como fábula com a única finalidade de promover princípios sociais absolutistas. A sua ficção tem o objetivo de tornar legítima uma estrutura social, estrutura social essa que já estava em execução em uma hipotética idade do ouro dominada pelos reis, filhos de Poseidon. Era o rei que determinava a idade do ouro e não a democracia que Platão combatia naquele tempo.
Nove mil anos, antes de Platão, Atenas não existia. Também quando depois de 3000 a.c. era um pequeno centro de Micenas, de sorte que Atenas não existia.
Não se trata, portanto, de ler uma história antiga como frequentemente tem sido comentado, e como consequência levando, assim, várias pessoas a buscarem a mítica Atlântida. Atlântida está dentro de uma virtualidade, dentro de uma condição alegórica, é um jogo resultante de uma burla de literatura, uma tapeação com a qual Platão deseja nutrir as expectativas das pessoas. Atlântida é, digamos, um não-tempo em que Platão quer inserir a sua história. Tal como se tivesse um pouco dos hebreus, atuais judeus, que falam da criação, do jardim do Éden e de Adão e Eva.
Naqueles tempos - diz Platão - os Deuses haviam dividido a Terra.
A Terra era, os homens eram, e os Deuses, isto é "aqueles" Deuses que foram concebidos por Platão, que nomearam-se os possuintes da Terra dividindo-a, portanto, e com decisões próprias, em terras de propriedade privada.
Desse jeito, a propriedade privada não foi construída, mas foi destinada pela Justiça que, injustamente, concedeu-a tirando-se a sorte entre os vários Deuses e dessarte ignorando os habitantes daquelas terras com os seus respectivos direitos.
A primeira injustiça que Platão comete é estabelecida pelo desprezo absoluto pelos homens de tal forma que transforma-os em bestas à disposição de um deus-patrão que é determinado pela Justiça. A injustiça adota a face da Justiça, que nega aos homens o patrimônio e o privilégio em decidir em suas vidas.
Platão escreve no Crítias às pag. 1422:
"Naquele tempo, os deuses estavam divididos de acordo com a sorte, de nações em nações, em tudo que fosse terra e não houvesse algum motivo para litígio. Seria, de fato, inconcebível, que os deuses ignorassem aquilo que a cada um deles estava determinado, ou então que, sabedores do que era mais conveniente aos outros, alguns desejassem se apoderar do que pertencia a outrem ao ponto de atingir controvérsias. Aconteceu, porém, que eles obtiveram por um sorteio, realizado pela Justiça, realmente aquelas regiões que desejavam, e assim começaram a colonizá-las. Após o que, como faz o pastor com o seu rebanho, do mesmo modo eles também criaram a nós, homens, que estávamos em suas posses como rebanhos. Havia uma diferença, no entanto: era a de que os deuses não faziam uso de corpos para obrigar outros corpos, do modo como os pastores usam os corpos para controlar o rebanho, isto é por meio de golpes com o bastão; mas como na pior das hipóteses se conduziria um animal doméstico: ou seja, guiando-o pelas costas. Assim, precisamente, os deuses conduziam e dirigiam a estirpe humana:
conforme o plano deles, com a força da persuasão, controlavam suas mentes quase como se dirigissem um leme. Mas, entre todos os outros deuses os que, tanto num lugar como no outro, se dedicavam às terras granjeadas, Hefesto e Atena, talvez porque tivessem por afinidade a Sorte de serem filhos do mesmo pai, ou talvez porque tivessem as mesmas aspirações, movidos como eram pelo amor ao saber e à arte - ambos tiveram, por destino, esta única região, como a terra a eles designada, terra espontaneamente fértil em virtude e sabedoria. De modo que nessa terra fizeram nascer homens virtuosos, e em suas mentes inspiravam a ordem política."
Os Deuses Hefesto e Atena tornaram-se, segundo Platão, os proprietários da Ática.
Por quê unir os Deuses Hefesto e Atena?
Vamos ser claros de uma vez por todas, a ignorância de Platão é enorme.
O que interessa a Platão é estabelecer a hierarquia de possessores, que neste caso são Hefesto e Atena os possessores de Atenas. Com a posse de Atenas, Platão faz com que a sua ideologia da posse regrida.
Se Platão tivesse sido menso presunçoso, menos arrogante, e menos ignorante, saberia que o artífice Hefesto não teria conseguido forjar o bronze sem a oliveira de Atena.
A pretensão e a arrogância de Platão constituem insultos à inteligência humana. São insultos à sociedade civil. São insultos ao direito de liberdade do homem.
Nos dias atuais, diferentemente do tempo de Platão, sabemos que a união de Hefesto e Atena permitiu a fusão e a elaboração do bronze também em certas circunstâncias, diversamente em Ática, aonde a escassez do material a ser incinerado, podia de qualquer modo causar a fusão do bronze a uma temperatura além dos mil e cem graus.
Sem a fusão do bronze não haviam armas, não haviam instrumentos para o trabalho. Somente com a união de Hefesto com Atena permitia forjar instrumentos de bronze e, com eles, o surgimento da cidade de Atenas.
Platão escreve no Crítias, às pag. 1422:
"Os nomes deles chegaram até nós; de outro modo a narração das suas obras por causa da morte de quem deveria expô-la e pela distância de tempos.
Como foi dito primeiramente, a raça que de quando em vez sobrevivia era aquela que, habitando os montes, carecia de cultura e os senhores da planície apenas ouviram falar dos seus nomes e, no máximo de alguma façanha, mas unicamente por alusões. Todavia, tais homens ficavam satisfeitos em dar esses nomes aos seus filhos, mas não se preocupavam dos eventos dos tempos remoto, ou porque desconheciam as virtudes e as leis dos antigo, ou porque tinham um conhecimento impreciso por terem ouvido dizer, ou porque faltavam a eles e aos seus filhos, de geração em geração, o necessário para viver, não podiam nada mais fazer a não ser preocuparem-se com essas necessidades conservando, cada um, em relação a isto, o seu pensamento."
Em resumo, Platão declama, não é que eu vos digo asneiras, mas do momento em que outras exigências se apresentavam aos homens, restaram os nomes dos Deuses, mas foram olvidadas as suas façanhas.
Na opinião de Platão torna-se importante cancelar a memória da realidade da natureza divina para, em substituição, impor uma definição diferente do semblante dos Deuses.
O porquê os homens usavam esses nomes dos Deuses, diz Platão, os próprios homens não conseguem saber e, portanto, eu estou autorizado a vender a vós um novo e diferente aspecto dos Deuses, já que não tendes a memória daquilo que eles são, o que foram ou qual foram as façanhas que os Deuses levaram a cabo.
Esta é a premissa do engano vivificada por Platão, sobre a natureza dos Deuses, para poder construir as preliminares com as quais impor a ideia do seu deus absoluto.
Se (de uma maneira premeditada) faço discursos que têm como finalidade o esquecimento de que os Deuses são a estrutura emotiva dos seres viventes, então posso transformá-los em uma imagem que completo com atributos e características, de modo que faço essa imagem agir com base em princípios sociais preestabelecidos por mim.
O que eu preestabeleci? Que o sujeito que eu chamo de Hefesto, e o sujeito que chamo de Atena, tornaram-se os proprietários da Ática. Não vou pesquisar acerca dos motivos pelos quais os habitantes da Ática elegeram esses dois nomes de acordo com as suas ações, mas, como faz Platão, afirmo que Hefesto e Atena são os proprietários da Ática.
Por quais façanhas tornaram-se donos da Ática?
Por sorteio. Mas, atenção, o sorteio (afirma Platão) é realizado pela Justiça e, portanto, sendo feito pela Justiça eles podem executar somente empreendimentos justos. Como se as Graças pudessem fazer somente coisas graciosas, mesmo quando quando cortam a garganta de alguém. Desse modo, segundo Platão, os habitantes da Ática encontraram-se numa situação em que seriam escravos de Hefesto e de Atena, pelo só desejo da Justiça. A injustiça é obra da Justiça que ao invés de submeter Hefesto e Atena aos habitantes da Ática, fez o contrário.
Esse é o discurso perverso de Platão.
Platão nos conta o seria conveniente aos Deuses, e expõe que o lhes convinha, sempre conforme Platão, era manter o domínio sobre os homens. Para essa narração, de Platão, seria necessário que os Deuses fossem rebaixados àquilo que Platão pensava dos Deuses; e não o que realmente os Deuses pensavam dos homens que encontraram os Deuses em suas vidas.
Platão não se indaga sobre a qualidade divina tanto de Hefesto quanto de Atena; no efetivo, Platão projeta a si mesmo em Hefesto e Atena, ou seja, aquilo que ele reputa conveniente se estivesse no lugar de Hefesto ou de Atena.
Os homens, expõe Platão, se esqueceram. Só que, na autenticidade, não foram os homens que se esqueceram, mas foi Platão quem anulou o significado da natureza dos Deuses para substitui-lo pelo significado da natureza de dominar, e de possuir, que Platão lhes atribuiu.
Platão escreve no Crítias, às pág. 1422 - 1423:
"O estudo dos Mitos e a busca profunda dos acontecimentos da história antiga realizaram-se nas cidades, quando se pôde constatar que ao menos alguns haviam satisfeito as necessidades elementares da vida; antes, de fato, não teriam conseguido. Eis que por aqueles genitores salvaram-se os nomes e não a memória das suas façanhas.. Por outro lado, desta minha afirmação, posso também fornecer a prova."
Sólon conta-nos que os sacerdotes, ao descreverem a guerra de então, citavam como as maiores assertivas os nomes de Cécrope, Erecteion, Erichthonius, Erisictão e de outros que, quando muito, lembravam-se como viveram antes de Teseu. É o mesmo que vale para os nomes das mulheres. Além disso, a tarefa da guerra era compartilhada igualmente entre homens e mulheres, até mesmo com a figura e estátuas sagradas que traziam a efígie da deusa, de acordo com esse costume, era representada armadas em todos os pontos. Finalmente, esse costume foi legitimado pelo fato de que todos os animais machos de uma mesma raça, e as suas fêmeas, são capazes por natureza, de dispensarem comumente as incumbências específicas das suas espécies.
As façanhas, das quais Platão se refere, outra conjuntura não é senão "o significado dos Deuses", isto é a essência e a realidade deles, que, segundo Platão, foi um significado perdido.
Só que Platão tem como certa a imaginação errada de que quem adorava os Deuses pensasse como ele, Platão, que os Deuses tivessem a forma humana e que tivessem sido os "antigos reis" ou os "antigos heróis", mas sempre homens, com necessidades humanas, com intentos e projetos humanos. Exatamente como, posteriormente, será inventado pelos cristãos.
Para Platão, os Deuses eram como se fossem os senhores- proprietários, aos quais os homens deviam obedecer, submeterem-se e honrá-los.
Se a cultura foi perdida através de muitas gerações (segundo Platão), então como foi que o mito permaneceu?
Como os escritos, do antigo período da história de Micenas, puderam ser lidos se alguns escritos gregos, ainda nos dias atuais, não estão em condições de serem lidos e decifrados? Quem comentava dos Deuses? Platão está, simplesmente, inventando um modo para que os Deuses possam ser pensados, mas do momento que não pode confirmá-los diretamente porque, no seu tempo teria sido publicamente contraditado, à vista disso prefere revelar as suas ideias associando-as às lendas antigas, de tal modo antigas que os presentes não conseguem recordá-las.
E de que coisa Platão recorda?
Da hierarquia social absolutista de Atenas.
Platão escreve no Crítias às pag. 1423:
-"Nessas regiões, portanto, diversas classes de cidadãos habitavam-nas, que se ocupavam com a produção dos bens de consumo ou com os produtos da terra. A classe dos guerreiros, ao invés disso, desde o início era mantida separada das outras classes, sem dúvida por decisões de homens divinos; era uma classe que habitava longe das outras e ainda dispunha de tudo o que era necessário para viver e educar-se. Todavia, nenhum desses guerreiros era possuidor de alguma coisa, como sua propriedade, mas cada um considerava que tudo pertencia a uma propriedade comum, e nada mais do necessário para viver seria necessário para reclamarem dos outros cidadãos. A tarefa deles consistia em isentar daquelas funções, que ontem ilustramos, ao discutirmos dos nossos hipotéticos guardiães." -
As classes sociais estariam, segundo Platão, associadas a uma vontade de um deus superior, de um deus-patrão, ou ao menos por condições naturais e sociais; e haveriam os guerreiros que desempenhariam a "incumbência de guardiães" que se deleitam de serem guardiães e nada solicitam por executarem essa função, sendo-lhes suficiente apenas a satisfação de serem guardiães.
Platão, ao descrever a hierarquia social, não apenas nega o próprio homem, mas nega também as suas necessidades, negando, enfim, aquilo que o homem veio a ser em virtude das suas transformações.
Para Platão os homens são máquinas que não respondem às suas necessidades, às suas paixões, mas somente a uma moral e a comportamentos socialmente impostos. O que então provém do "guardião armado" quando ele se enamora, quando ele pretende alguma coisa que deseja? E se o seu desejo, por aquilo que ele aspira, é um desejo muito mais forte em cotejo com aquele que se apoderou da sua pessoa? Como conquistar e satisfazer esse desejo? E, conforme Platão, por quê as classes sociais "baixas" devem ser classes sociais baixas, isto é devem estar no nível que lhes foi destinado, e portanto não podem desejar dominar a cidade? E por quê alguns indivíduos não podem aspirar às classes diferentes: sentirem desejos, poderem comercializar, construírem novos relacionamentos, etc.? Seria por obra de um deus-criador que "destinou-os" a permanecerem nas castas mais "baixas"?
Os cristãos venderam esse modelo social de Platão, como um "modelo comunista", quando esse é unicamente o modelo da hierarquia que vigora num campo de concentração de pessoas. Enquanto para Marx o comunismo é uma atividade de transformação do presente em virtude da satisfação das necessidades humanas, para os cristãos o comunismo é a organização do campo de extermínio aonde cada sujeito ocupa o seu devido lugar, que lhe foi designado pela providência "divina", e assim deve obedecer ao papel destinado aos guardiães, e os chefões intercederão para reconduzi-lo à ordem.
O reino da felicidade, para Platão, é o reino da hierarquia aonde vigora a hierarquia dos mais fortes sobre os mais fracos.
A hierarquia é, portanto, a condição em que o homem vive. O homem se anula na hierarquia. O homem torna-se apenas um instrumento que é acessório de uma máquina, que deve funcionar para o "bem". Um bem que não pertence ao homem, mas é o "bem da "cidade" (de acordo com a perfídia, com a deslealdade de Platão); em outas palavras: um bem que pertence a quem o domina, um bem que ajusta-se ao deus-patrão.
Os "guardiães" podem vexar os cidadãos colocando-os dentro de uma hierarquia, porquê os "guardiães" não carecem de nada mais, visto que eles têm somente a necessidade de vexar os cidadãos, para mantê-los nos seus devidos lugares, desempenhando a função que lhes foi destinada. Trata-se de uma aleivosia de Platão, trata-se da perversão do domínio elevada a uma forma ideológica. Pelo menos, aos que conseguem enxergar nas palavras fingidas de Platão, trata-se do mesmo sadismo do Marquês de Sade em que o desvio mental conduzia ao prazer para finalizar a satisfação da sexualidade; para Sócrates, o "mestre" de Platão, o sadismo social tem o fim em si próprio. Platão dialoga tentando ostentar uma "sabedoria" que exalta a perversão do domínio do homem sobre outros homens; a ostentação do domínio ideológico que encaminha-se à satisfação em obrigar a uma outra pessoa, o cidadão ou a cidadã; vangloria-se de um domínio que constrange o Ser Humano a um simples não-ser. É a exata perversão ideológica de um campo de extermínio, que concede satisfação aos carniceiros até mesmo no aguardo do momento de exterminar os prisioneiros.
A idade de ouro de Platão é uma idade mítica na qual o direito de dominar o homem, de reduzi-lo à condição de escravo, era favorecida pelas condições na terra da região da Ática.
Ao mesmo tempo, o território sobre o qual Atenas dominava, segundo Platão, nove mil anos antes dele, era uma região que superava todas as outras pela sua fertilidade. Com estas características, diz Platão, podia manter um grande exército sem obrigar os soldados a trabalharem no cultivo da terra.
"Também nos diz de hoje - diz Platão (em seu diálogo) -, a parte da terra que nos sobrou é muito fértil, como era há nove mil anos antes... além dos frutos excelentes atingia, inclusive, a uma abundância extraordinária."
Atualmente, com a pesquisa arqueológica, não apenas afirma-se que essas palavras de Platão não são verdadeiras, mas inclusive a pesquisa nos diz que nesses tempos, ao quais Platão se refere, Atenas ainda não existia.
Resta-nos a pergunta: então por quê Platão inventa essa história, uma situação que não existiu, improvável e intencionalmente imaginada por ele, querendo que essa fantasia fosse aceita de modo a coloca-la como a base do seu próprio discurso?
Porquê isso dar-lhe-ia um modo legítimo para difundir as suas ideias que eram opostas, que estavam em antítese a uma situação social presente, em sua época, que ele refutava. As suas ideias sociais seriam reconhecidas, porquanto com essas suas ideias, da sociedade, estaria produzida a sociedade de ouro. Seria, para Platão, uma sociedade "ideal" que, em um tempo longínquo, bem remoto, teria produzido a felicidade. Só que, as ideias desse tipo de sociedade, de Platão, não conduziam à felicidade, mas somente à dor debaixo de uma hierarquia que seria reconhecida por meio de uma crença em uma sociedade utópica, que conduziria "novamente" à idade de ouro em que essa hierarquia arquitetada teria reinado.
Como se pôde acreditar que essa invenção de Platão fosse verdadeira?
Platão sabe dizer coisas falsas com intentos maléficos, no entanto afirma que em nove mil anos a morfologia do território mudou pelos efeitos dos terremotos e de transformações, que eliminaram com toda a terra fértil e reduziram a Ática. Em outras palavras ele diz que a Ática "encolheu"..
Toda a terra fértil, no dizer de Platão, logo em seguida aos terremotos, desapareceu no mar. Como acontece com as pequenas ilhas, diz Platão, aconteceu também com a Ática restando somente as montanhas desoladas e improdutivas, semelhantes ao que resta de um doente que acaba em pele e ossos.
Platão se esquece que essa não é uma prova da veracidade daquilo que ele sustenta em seu diálogo, porque essas são afirmações gratuitas que demonstram nada, mas limitam-se a serem inseridas e afirmadas nas suas fantasias. Ele afirma que anteriormente os montes eram ricos de terra fértil, e agora são improdutivos. Antes eram montes ricos em selvas, ao que passo hodiernamente estão apenas em condição de alimentar as abelhas. Assevera que, naquela ocasião, cortavam-se as árvores para serem construídos os tetos dos grandes edifícios, que depois de nove mil anos ainda permanecem intactos.
A idade de ouro de Platão move-se entre um grande número de árvores cultivadas, pastos intermináveis, e gados em grande quantidade. A idade de ouro de Platão, na sua falsa eloquência, é análoga às condições áureas dos agricultores do Veneto que sonhavam com "mares de polentas al sugo".
Nessa idade de ouro haviam "verdadeiros agricultores", não os camponeses do seu tempo que ele, Platão, desprezava. Camponeses que "...dotados de um gosto particular pelo belo e pelas virtudes naturais, proprietários de uma terra de ótima qualidade, riquíssima de água, e além disso eram favorecidos também por um clima extraordinariamente temperado.".
Os agricultores não eram pessoas que labutavam debaixo do sol, mas eram pessoas dóceis, pessoas respeitosas com o belo, ao agradável, e que se dedicavam ao belo da Natureza. De onde Platão inventa, dando um significado a essa beleza, que seria fruto do sujeito submisso ao rei, que com todo o prazer e paixão faria as vontades do rei.
A antiga e potente cidade de Atenas, que Platão vende como uma dose de heroína aos seus contemporâneos, não somente jamais existiu, mas os seus próprios contemporâneos consideram-na uma invenção de Platão, e a ela não dão muita importância.
Todavia, a concepção da existência de um tempo mítico no qual podia-se viver sem trabalhar e sem angústias, como acontecia naquele presente tempo, invadiu a imaginação humana.
Se o conceito de "idade de ouro" foi elaborado por Hesíodo para explicar a caída do homem na presente era, é Platão que torna atual, socialmente, uma ideia de "idade de ouro" para poder justificar a ditadura social contra os impulsos democráticos. O tempo do senhor, do proprietário, caracterizado pela riqueza, enquanto o tempo presente da democracia, é caracterizado pelo trabalho, incumbência e cansaço. Platão esforça-se para impingir a ideia de que a democracia implica na labuta, persuadindo, ardilosamente, os seus contemporâneos e que, ao contrário, a escravidão imposta por um senhor implicaria em felicidade e riqueza. Platão se identifica com esse senhor e proprietário ao qual todos devem a reverência.
Da ordem urbanística da antiga Atenas, a Platão interessa apenas como estava organizada no aspecto militar. Os agricultores, os comerciantes, os artesãos não aparecem como sujeitos que habitam a cidade. Em nome do absolutismo militar, ao qual Platão quer sujeitar Atenas, somente os militares e as suas famílias, bem como os seus alojamentos, são importantes para Platão.
Platão se limita a dizer que: 'sim, os militares eram terroristas ferozes, no entanto não tomavam nada mais do que precisavam, e mantinham um equilíbrio entre a grande abundância e a miséria.'
Os militares limitavam-se a apoderarem-se dos habitantes, sem dar-lhes nada em troca.
Porém, aqui neste ponto, surge-nos uma dúvida: o que é o dilúvio de Deucalião?
O Crítias foi atribuído a Platão no 4° século a.c. e é, talvez, a citação mais antiga do Deucalião, um período em que fala-se de um hipotético "dilúvio universal".
Se a ideia do dilúvio universal é uma ideia que "aprendemos" a considerá-lo como próprio dos hebreus que, desse dilúvio universal iniciam com a sua história, parece-nos que o dilúvio está inadequada e absolutamente fora de território, como também está fora da estrutura do Mito quando é usado por Platão.
O problema está em que se Platão introduziu na Grécia a ideia do dilúvio universal, por meio do qual zerar a história, que precede a Grécia, então: ou, como parece-nos improvável, a história do dilúvio universal foi arquitetada antes ou, e de igual modo, não se apresenta nem em Homero e nem em Hesíodo.
O conto do Deucalião aparece na Biblioteca de Apolodoro, uma coleção de "mitos" suficientemente tardia, intempestiva, e de qualquer modo posterior ao Crítias de Platão; muito posterior para que não se pense que o conto tenha sido introduzido por Platão com o intuito de estuprar o Mito grego. Na história do dilúvio atribuída a Deucalião, Zeus não é o deus de Hesíodo, mas é um deus que está muito próximo do deus inventado pelos hebreus: o deus-patrão.
A mesma estrutura da antiga Atenas nada tem a ver com a Democracia, mas está muito perto da ditadura do Crítias, que está destruindo a sociedade Ateniense do que os trinta tiranos.
A necessidade de Platão de acentuar a respeito dos militares, sobre os direitos deles, sobre os seus privilégios limitados não pela lei, mas pelas suas escolhas morais, constitui o fundamento da ditadura absolutista que destruiu a sociedade civil inteira.
Platão escreve no Crítias, às pag. 1424:
'- A parte externa e as margens da Acrópole eram habitadas pelos artesãos e camponeses que lá, ao redor, cultivavam a terra; mas na parte alta, na região do templo dedicado à Atena e a Hefesto era ocupada, exclusivamente, pela classe dos guerreiros que, ao contrário, tinham cercado-a com uma faixa de muro, quase como se fosse um único burgo. Estes habitavam ao norte na parte exposta, onde teriam estado os alojamentos e os comuns refeitórios invernais, e de tudo o que servia à vida coletiva, efetivamente às habitações e aos templos; não havia lugar, ao invés, nem para o ouro e nem para a prata, que destes não faziam nenhum uso. Em vez disso procuravam o meio de equilíbrio entre a abundância excessiva e a miséria, e em conformidade com isto foram construídas as casas decentes nas quais eles próprios, com os seus respectivos netos permaneciam até a idade da velhice para, posteriormente, confiá-los aos homens da mesma índole.-'
E ainda, às pag.1425:
'- Esse era, portanto, o regime de vida de deles, e eles ao mesmo tempo eram defensores dos seus concidadãos e modelos bem aceitos pelos outros Gregos, empenhavam-se principalmente, para que o número de homens e mulheres já em idade para serem soldados, ou em idade atingida para soldados, permanecessem sempre que possível em uma constante, ou seja em [E] vinte mil unidades. Esta, pois, era a índole deles, e da forma como foi dito, eles não cessavam de dirigir a Hélade e a cidade, conforme a justiça.-'
São militares que estão na guarda dos camponeses e dos artesãos, dos quais roubam o trabalho para poderem se manter. Esta é a estrutura ideal de Platão que nega, de fato, aos camponeses e aos artesãos cada direito social a não ser o direito de "serem protegidos" pelos militares, que equivale ao direito, também, de poderem ser massacrados pelos militares a qualquer momento que esses guerreiros acreditarem ser justo massacrá-los.
Consequentemente, para Platão, qualquer cidadão de Atenas equivale apenas e tão-somente a uma mercadoria; um objeto desprovido de direitos porque tudo depende não das leis que impõem deveres inclusive ao mais forte, mas depende das leis que impõem ao mais fraco a obrigação de ser submisso ao mais forte.
No dizer de Platão, a sociedade é criada por deus. É deus o proprietário da sociedade. Esse deus faz da sociedade o que ele quiser meramente porque é o proprietário daquela sociedade.
Esse conceito, platônico, do homem ser escravo de um deus que transforma o mundo onde o homem vive, e portanto o pensamento que faz do homem um subjugado de deus que perante ele o homem tem apenas o direito de obedecer, é uma concepção utilizada pelos hebreus que foram escravos na Babilônia, e que fazem dessa concepção de obediência ao deus dominador o mesmo conceito, dogmático-ideológico, do qual fazem com que a sociedade deles seja uma resultante.
Se a ideia de submissão ao absolutismo do dominador, na bíblia cristã, surge de um modo rude, de uma forma ignorante, já na definição de Platão o mesmo conceito é apresentado com maior elegância. É declarado de um modo a cativar a atenção do leitor nas ações de deus. É enunciado de uma maneira apta a fazer desaparecer do horizonte da atenção, do leitor, as condições da vida do homem em relação às pretensões "justificadas" pelas ações desse deus.
A terra, nesse conceito, foi obtida por meio de um sorteio entre os Deuses.
A terra não condiz com os que habitam-na, mas pertence a um proprietário através da tirada da sorte.
O patrão não é tal porque praticou ações delituosas destinadas ao domínio do homem, mas porque foi premiado com aquela propriedade, e por extração obteve a posse e o domínio.
Da ideia de Platão, segundo a qual ao deus pertence a propriedade por um sorteamento, deriva o conceito de "providência divina". Por quê aquela terra não pertenceu, através de um sorteio, aos homens, mais precisamente aos homens daquela terra, mas coube a Poseidon?
Trata-se de uma transferência por uma condição de legitimidade transcendental do direito do Tirano Crítias, para ser o proprietário da cidade de Atenas. Crítias não perpetrou ações criminosas contra os cidadãos de Atenas, para tornar-se o tirano deles, mas a Crítias através de um sorteio coube ser o tirano de Atenas.
Platão elabora o conceito cristão da predestinação, da fatalidade, do destino, como uma manifestação da vontade de deus, vontade essa à qual as pessoas devem se submeter porque a condição social delas é uma condição desejada por deus.
No cristianismo, a ideia da submissão dos homens a deus soa assim:
"Servos sois, submissos com todo o respeito aos vossos proprietários, não somente àqueles que são bons e razoáveis, mas também àqueles de caráter intratável. Visto que agrada a deus que as aflições sejam suportadas por vós, ao que diz respeito aos interesses dele, inclusive quando sofreis injustamente. De fato, quando erramos, não há gloria em suportar e ser maltratado? E inclusive quando agis corretamente deveis suportar sofrimentos, porque esse modo de agir agrada a deus. Todavia, é por isso que vós sois convocados, porque Cristo também sofreu por vós, deixando-vos um exemplo para que vós sigais as pegadas dele."
Primeira carta de Pedro 2, 18-20
E ainda:
"Que cada um de vós seja submetido às autoridades superiores; porque não existe autoridade que não tenha origem em deus, e aquelas que existem são constituídas por deus."
Paulo de Tarso, carta aos Romanos 13,1
Platão diz que os habitantes da Atlântida devem obedecer a Poseidon, porque a terra da Atlântida coube, por sorteio, a Poseidon.
Para Platão é como se não existissem outros habitantes, na sua imaginada Atlântida, a não ser somente os filhos de Poseidon, e estes são os que são dignos de atenção. Para Platão apenas os tiranos são dignos de atenção.
Já viram o Poseidon de Platão trabalhar?
Platão escreve no Crítias às pag. 1425 - 1426:
-' Não fugia à regra nem mesmo Poseidon, o qual obteve por sorteio a ilha da Atlântida, fixou a residência aos filhos, que recebeu de uma mulher mortal num certo local dessa terra que tinha mais ou menos a conformação de ilha. Desde o mar ao centro da ilha era tudo plano, uma planície, e dentre todas as planícies, aquela era a melhor, e, de acordo como se comenta, era inclusive notavelmente fértil. Não distante da planície, à cerca de cinquenta estádios (nota: estádio era uma unidade de medida da antiga Ática, que corresponderia a 177,60 m) a partir do seu centro, erguia-se um monte, não muito elevado em cada uma das suas partes.
Aqui tinha residência um dos homens que, originariamente haviam nascido na terra; o nome dele era Euenore e lá morava com a esposa Leucippe. O casal teve somente uma filha, Clito, que, não apenas atingiu a idade para ter um marido, já ficou órfã de pai e mãe. Poseidon, tomado pela paixão, deitou-se com ela. Assim, escavou ao redor de todo o monte aonde a rapariga habitava, formando como se fossem círculos concêntricos, em alternância de mar e terra; às vezes mais largos e outras vezes menos largos: dois de terra e três de mar, quase como se fossem circunferências e a ilha no centro, e desta perfeitamente equidistantes. Desse modo, aquele local ficou inacessível aos homens, levando-se em consideração o fato de que, então, não haviam navios e nem a arte da navegação. O Poseidon em pessoa, depois, porque era deus, não teve dificuldade para tornar a ilha esplêndida, que ficou no centro, gerando duas fontes da terra - uma que escorria da nascente em um riacho de água quente, a outra em água fria -, e fazendo brotar do solo todos os gêneros de plantas comestíveis em quantidade abundante. -'
Percebam, aparece um homem, Euenore, que com a esposa Leucippe, eram "natos na terra". A pergunta vem espontaneamente: por quê a eles não coube por sorteio a Atlântida? Por quê coube a Poseidon e a eles não?
Porquê para Platão eles, os homens, são objetos para serem usados pelo deus. Exatamente como os cidadãos de Atena são objetos para serem usados, por parte do tirano Crítias.
Euenore e Leucippe têm uma filha. Além disso, eles têm a decência de "retirarem-se do conto", de morrerem, de modo que Poseidon, sem dificuldades, possa mudar a filha deles em um objeto de uso.
Eu não vejo o Poseidon, de Platão, que com o tridente cava ao redor em direção à altura aonde a jovem habitava. Cavou em círculos concêntricos um tanto de terra e outro tanto de mar, de modo a isolar a habitação da moça que Poseidon havia se enamorado fugazmente.
Em resumo, conforme agrada a Platão, Poseidon encerrou a donzela para ser o seu objeto de uso, dentro de uma prisão, e assim isolando-a do mundo dos homens. Ela, nascida humana, fruto dos homens, sendo privada de viver com os humanos e transformada em um objeto de uso do deus Poseidon. Um objeto de manipulação e com o qual poder gerar cinco pares de gêmeos masculinos.
Naturalmente, Platão cuida-se bem para dizer como Poseidon tenha gerado cinco pares de gêmeos machos, não nos diz quem é a mãe, mas deixa-nos entender que seria a filha daqueles dois desgraçados que "foram jogados para escanteio".
O uso da jovem Clito feito por Poseidon é o mesmo uso que o deus-patrão cristão faz com Maria. E é provável que Clito tenha sido o modelo utilizado pelos cristãos. Enquanto Platão nada nos diz sobre o que pensa Clito da ação de Poseidon, Lucas nos conta que a Maria dos cristãos funda a ideologia da prostituição para glorificar o seu violentador. Uma lacuna natural no pensamento de Platão, que em Lucas soa no louvor de Maria dirigido ao estuprador dela.
46] Então, disse Maria:
'A minha alma glorifica o Senhor [47] e o meu espírito exulta em Deus, o meu salvador, [48] porque enxergou a humildade da sua serva. De agora em diante todas as gerações me chamarão de beata. [49] Grandes coisas fez em mim o Onipotente, e Santo é o seu nome: [50] de geração em geração a sua misericórdia se estende sobre aqueles que o temem. [51] Mostrou a potência do seu braço, dispersou os soberbos nos pensamentos dos corações deles; [52] destronou os potentes dos seus tronos, elevou os humildes; [53] saciou a fome dos famintos com bens, deixou os ricos com as mãos vazias. [54] Socorreu Israel, seu servo, recordando-se da sua misericórdia, [55] como tinha prometido aos nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.'
Do evangelho de Lucas 1,46 - 55
Do mesmo modo como Maria dos cristãos é um objeto de uso com o qual o deus-patrão gera Jesus, assim também Clito é objeto de uso de Poseidon. Tanto Maria como Clito desaparecem de cada história, porquê gerar o filho, ou os filhos, do patrão, era o único papel delas na história. Da Maria, dos cristãos, permanece a ideologia do controle sexual: ou seja manter a vagina virgem. Não são pessoas que viveram, mas são pessoas que pertencem a um gado de quadrúpedes possuídos, e com os quais o deus-patrão fez alguma coisa e, depois, descartou-os como se fossem restos, ou seja lixos.
Se este é o mecanismo da história contada por Platão e por Lucas, de fato eis que o óvulo feminino deixa entrar aquele e somente aquele espermatozoide. Do momento que a contribuição para o nascimento de filho é de cinquenta por cento patrimônio da mãe com a intervenção do pai, obviamente que Clito é igual a Poseidon exatamente como Maria é igual ao deus-patrão e criador dos cristãos.
O elemento central é o de que, tanto os cristãos como Platão, querem ignorar a igualdade dos homens comparados com deus, que é o deus proprietário deles. Uma igualdade que nasce precisamente das relações que o deus, que pretende ser o deus-patrão, tem com os homens para os seus interesses que, coincidentemente, são interesses que dizem respeito ao âmbito humano.
O golpe através de uma varinha mágica, do deus-patrão dos cristãos, é igual ao golpe da varinha mágica com a qual Platão quer que Poseidon faça com que as fontes apareçam.
Platão escreve no Crítias às pag. 1426:
"O próprio Poseidon depois, porque era um deus, não teve dificuldade em tornar esplêndida a ilha que estava no centro, fazendo surgir da terra duas fontes - uma que fluía da nascente a um riacho de água quente, e a outra ao riacho de água fria -, e fazendo brotar do solo todos os gêneros de plantas comestíveis, em abundância."
A "coisa" nessa história fantástica equipara-se com o deus cristão para o qual não existe nenhum problema "criar o céu e a terra" e dos quais ser o patrão.
Os princípios ideológicos que se manifestam no conto da Atlântida, de Platão, é a ideia de Crítias que se julga dono dos atenienses, porque Crítias é o tirano de acordo com a vontade de Poseidon, exatamente como, de acordo com os cristãos concomitantemente com o deus deles, os escravos são escravos em suas vidas por pura e simples vontade desse deus fabricado, e do qual os cristãos dependem uma vez que elegeram-no o deus-patrão. Por esse motivo os homens não apenas desaparecem do horizonte do deus Poseidon, mas inclusive se separam dele que constrói os desaguadouros. Os homens nem ao menos são levados em consideração pela Justiça para participarem daquele sorteio, estabelecido por Platão, e também poderem ser titulares do mundo.
Poseidon divide o "reino" da Atlântida entre os seus filhos que, por serem filhos dele, também vêm a ser os proprietários desse reino. Exatamente como Jesus, que pretende ser o proprietário dos homens, porque apresentou-se como o filho do deus-senhor.
Platão introduz o conceito de "descendência de sangue". Os filhos do deus Poseidon são privilegiados em comparação a todos os homens e, a esses seus privilegiados, Poseidon lhes concede o poder nas respectivas terras.
Não são donos dos homens porque pretenderam conquistá-los por meio da força, mas são patrões dos homens por uma "linhagem", por uma raça, por destino, por sangue; por descendência porquê, na ideia de Platão, de um deus pode nascer somente outro deus. É uma pena que Clito não fosse um deus e assim pudesse contribuir, geneticamente, com 50% do "patrimônio genético" , ou se vocês quiserem, do "patrimônio de sangue". Eurípides em 432 a.c. escreve a tragédia Medeia que, para punir Jasão, seguindo as convicções ideológicas de Platão, mata os filhos que acredita não serem seus mas sim de Jasão, embora ela os tenha mantido em seu ventre. Mas, de acordo com o parecer de vocês, o que entendia Platão sobre o "patrimônio genético"? Podemos imputar a Platão o não conhecimento da concorrência do patrimônio genético feminino em um neonato? Certamente que não! Não podemos a ele isto imputar, mas a ele podemos imputar a discriminação de raça.
O que autorizava Platão a não considerar Clito, e com ela a própria mulher, no nascimento das crianças? O que autorizava Platão a considerar a mulher um ser socialmente inferior? Considerando-a uma não-pessoa tanto que, no processo de reencarnação, inventado por Platão, os homens malvados reencarnam como mulheres?
Platão escreve no Crítias, às pag. 1423:
-' Além disso, dado que então a finalidade da guerra era igualmente compartilhada por homens e mulheres, até nas figuras e nas estátuas está a efígie da deusa, na mesma linha desse costume, era representada totalmente armada. No restante, esse uso é legitimado pelo fato de que todos os animais machos de uma mesma raça, e as suas fêmeas, são capazes, por natureza, de executarem conjuntamente as missões específicas às suas espécies.-'
Por qual ideia demente Platão não via a contribuição das mulheres, ao fazerem filhos, se podia observar como muitos filhos assemelhavam-se à mãe?
Com Platão não falamos de "lógica". Platão tem somente o escopo de propagar a malvadeza com fins do domínio ideológico. Por isso difundia ódio e desprezo em relação às mulheres.
Não estamos diante da afirmação do tipo: essa era a sociedade daqueles tempos! Não existia uma norma nas relações interpessoais que indicasse ao filósofo para fixar uma condição social. Como o filósofo não estava autorizado a argumentar a respeito dos Deuses, porquê os Deuses não entram na argumentação racional (efetivamente eram os poetas que falavam dos Deuses), assim não estava abalizado a elevar à condição divina a condição social que encontrava a não ser onde houvesse interesses específicos para impor uma hierarquia, como surge na ditadura antidemocrática de Crítias que deveria separar as mulheres da sociedade.
Por quê conservou-se a hierarquia da monarquia da Atlântida?
Platão dela fala:
A Monarquia da Atlântida se conservou por uma série longa de gerações, porque o rei "transferia o seu título ao mais velho dos filhos".
Portanto, Platão não diz qual era o costume da Atlântida, mas afirma o motivo pelo qual na Atlântida a dinastia se conservou e acumulou grandes riquezas.
Platão escreve no Crítias, às pág. 1426:
'- A descendência dos Atlantes foi, pois, numerosa e gloriosa; e do momento que para ocupar o título de rei era necessário ser o mais velho, e estes transferiam sempre o título ao mais velho dos filhos, sucede que a dinastia conservou-se por uma série longa de gerações. Assim, esses soberanos acumularam uma tal quantidade de riquezas, que nenhuma monarquia precedente jamais havia acumulado, nem poderiam ter facilmente e sucessivamente outras, conforme dispunham além do que dispunham das riquezas da Cidade; também aquelas que todo o resto do país estava em condições de fornecer.-'
Em resumo, a Atlântida não era um Estado rico, mas na Atlântida haviam reis ricos que tinham tudo e tudo poderiam ter. Não somente os bens produzidos na cidade, mas também os bens produzidos em todo o país.
O conceito que Platão introduz é a legitimação da riqueza do proprietário pelo só direito de ser proprietário. É o conceito de monarquia absoluta que encontramos nos evangelhos e na bíblia; é um conceito antecipado por Platão através do discurso no Crítias, aonde o tirano Crítias não permite justificativas pelo fato de ser tirano, mas joga com as ilusões para que os ouvintes do discurso apoiem uma monarquia em que ele é o possível rei.
A descendência do primogênito do rei da Atlântida equivale ao evangelho de Mateus que tende a construir a descendência de Jesus. Temos que, em todo o evangelho de Mateus, Jesus é o filho do deus-proprietário, logo no início do evangelho Mateus quer demonstrar como Jesus descendia de um tipo de "estirpe real" que ele legitima com as suas pretensões absolutistas.
Mateus escreve:
"Abrão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou Judá e os seus irmãos, Judá gerou Fares e Zara de Tamar. Fares gerou Hezrom. Hezrom gerou Aram, Aram gerou Aminadab, Aminadab gerou Naasson, Naasson gerou Saimon, Saimon gerou Booz de Racab, Booz gerou Obed de Rut, Obed gerou Iesse, Iesse gerou o rei David,
David gerou Salomão daquela que foi mulher de Uria, Salomão gerou Roboamo, Roboamo gerou Abia, Abia gerou Asaf, Asaf gerou Jeosafá, Jeosafá gerou Ioram, Ioram gerou Osia, Osia gerou Ioatam, Ioatam gerou Acaz, Acaz gerou Ezechia, Ezechia gerou Manasse, Manasse gerou Amos, Amos gerou Giosia, Giosia gerou Ieconia e os seus irmãos, no tempo do banimento na Babilônia.
Depois da proscrição na Babilônia, Ieconia gerou Salatiel, Salatiel gerou Zorobabéle, Zorobabéle gerou Abiud, Abiud gerou Eliacim, Eliacim gerou Azor, Azor gerou Sadoc, Sadoc gerou Achim, Achim gerou Eliud, Eliud gerou Eleazar, Eleazar gerou Mattan, Mattan gerou Giacobbe, Giacobbe gerou Giuseppe, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamando de Cristo.
A soma de todas as gerações, de Abrão a Daví, e pois de catorze; de Daví até a deportação na Babilônia é ainda de catorze; da deportação da Babilônia até Cristo é, enfim, de catorze.
(Evangelho de Mateus 1, 1 - 17)
Da mesma forma como Platão elabora os motivos da riqueza dos reis da Atlântida, por meio de uma descendência de sangue, assim também Mateus elabora uma descendência por meio do sangue de Jesus, querendo demonstrar a pretendida sapiência de Jesus.
É a descendência desse chefe que determina o domínio. É a predestinação que determina o domínio, a riqueza, a sabedoria.
Resumindo, para os seguidores dessa ideia é o sempre o deus, o deus chefe da bíblia, ou o Poseidon de Platão, que permanecem na descendência como se no sangue houvesse um processo para a reencarnação capaz de legitimar o indivíduo, pois seria a "reencarnação" desse deus maquinado.
Por quê Mateus afirma que Jesus é "sapiente" e patrão dos homens?
Porquê descende de Abrão.
Por quê Platão afirma que a descendência, na maquinada Atlântida, é rica e próspera?
Porquê é uma descendência de Poseidon.
Em todas essas descendências a mulher desapareceu.
Todos são filhos do deus-patrão e todos descendem de um macho e não de uma mulher. A mulher não existe. Não toma parte. Não é um sujeito pensante, ou seja capaz de raciocinar. A mulher não contribui para o nascimento do homem, embora o mantém por nove meses dentro do ventre. Apesar de que, a consciência do homem, é gerada com o auxílio de uma dissociação da estrutura emotiva da mulher.
O papel da mulher era conhecido, apenas e tão-somente, para o nascimento do homem, mas era necessário negar o desempenho da mulher, ao que se refere ao nascimento do homem, para impedi-la de participar nas decisões da vida civil.
Platão, como também os cristãos, não negam a função da mulher porque não sabem da importância dessa função feminina, mas negam-na porque é somente transformando a mulher em um objeto de uso é que podem usá-la para controlar os comportamentos do homem na sociedade.
Em toda a descendência de Poseidon a mulher não aparece senão pela paixão fugaz de Poseidon. Em toda a descendência de Jesus não aparece uma mulher senão aquela que o deus-patrão cristão usa para os seus escopos. E, então, por quê afirmar uma descendência de Jesus proveniente de Abrão se não existe, de fato, nenhum relacionamento de Jesus com Abrão desde que José não é o pai de Jesus, mas José é apenas um marionete usado pelo deus dos cristãos?
Quem produz a riqueza na Atlântida?
Os operários que trabalham? Os cidadãos em geral? Os artesãos? Os escravos?
Não! A terra, porque é propriedade do deus (Poseidon) e dos seus descendentes, ela produz a riqueza em mercadorias, de madeira, de produtos, de metais e de tudo o que forma a riqueza.
Tanto nos evangelhos, quanto em Platão, que os precedeu, o trabalho do homem desaparece. O homem, em ambos, não modifica o ambiente para produzir a riqueza, mas o ambiente produz a riqueza por si mesma.
Se o ambiente, possuído pelo deus, produz a riqueza isoladamente, então o possuidor da riqueza, isto é o descendente do deus, é o distribuidor da riqueza. Mas se é o trabalho do homem que produz a riqueza através da transformação das matérias-primas em produtos, então o homem pode reivindicar os seus direitos junto ao "rei" embora ele fosse o filho do deus Poseidon.
Platão tem o problema de fazer desaparecer as pessoas, o povo, para poder impedir as pessoas de reivindicarem qualquer direito diante do rei. Crítias não pode tolerar, porque é um tirano, que os habitantes de Atenas tenham quaisquer direitos em relação a ele. O tirano, para Platão, não pode estar sob deveres em relação à cidade, mas pode apenas possuir direitos que induzem os habitantes, daquela cidade, a acreditarem que a só satisfação, dos direitos do tirano, já constitui o direito daqueles habitantes.
O mecanismo psicológico com o qual se legitima a escravidão e a tirania é sempre o mesmo: é o tirano ou rei que constroem as casas, as pontes ou os templos, e não os cidadãos que colocam os tijolos sobre cimento.
Platão escreve no Crítias, às páginas 1427:
-' Finalmente, para que durassem sob o sol, aquela beata ilha produzia todos esses bens de deus, em grandíssima quantidade e de qualidade extraordinariamente boa.
Desfrutando de cada um desses recursos da terra, os reis da Atlântida, puderam construir templos, os portais, as baías, os instrumentos para construção e equiparem o restante da região em sua complexidade para a obra seguinte.'
Por esse mecanismo, maquinado por Platão, nasce a estratégia cristã de "agradecer a deus" cada vez que os homens construíram e constroem qualquer coisa. Com isso rouba-se o mérito dos homens pelo trabalho deles, nega-se o emprego da vontade própria deles, e consequentemente os homens são reduzidos a nada"... para que não se gabem diante de deus". A estratégia cristã de humilhar o construtor irá servir aos cristãos para construírem a miséria social.
Essa estratégia nasce de Platão que faz do tirano o sujeito proprietário por vontade ou por descendência de deus, seja qual for o nome desse deus, e anula os homens e o trabalho dos homens para a glória do tirano.
Platão escreve, no Crítias, às páginas 1427:
-"Como se isso não fosse suficiente, aquelas plantas aromáticas, que ainda hoje a terra produz - raízes, folhas, caules, ou resinas que escorrem das flores ou dos frutos - não só já cresciam desde então, mas eram de uma qualidade ótima.
Da mesma forma para os cachos de fruta fresca como também as secas, de fato muito nutritivas, e também os vegetais comestíveis que [B) que geralmente chamamos legumes. E ainda lá se encontrava aquele tal fruto lenhoso rico de suco, de polpa e de perfume; aquele fruto que se come por divertimento e por prazer, mas que é de difícil conservação; aqueles tão procurados, que são levados à mesa para o banquete, para aliviar a quem está empanturrado por excesso de alimento. Enfim, para que permaneça sob o sol, aquela ilha beata produzia todos esses bens de deus, em grandíssima quantidade e de qualidade extraordinariamente boa. Desfrutando de cada um desses recursos da terra, os reis da Atlântida, puderam construir templos, pórticos, baías, espaços para construção, e assim munir o restante da região, no seu todo, para o procedimento seguinte."-
No eldorado (de Platão) notamos que ninguém trabalha, e o rei é quem providencia da construção.
O rei constrói os templos, que não são úteis aos homens, todavia não se sabe bem para o que devem ser úteis. Os reis, naturalmente, não constroem moradias, mas recintos para eles próprios. Constroem as pontes e munem a região.
Platão nos conta acerca da estrutura de uma ditadura e como essa estrutura deixa as pessoas felizes, porque se identificam com a felicidade do rei. Com a riqueza do rei. Com a bravura do rei. Com a descendência do sangue do rei.
Em Platão os homens aparecem como não-pessoas, que simplesmente se movem em um mundo que não lhes pertence, mas que a esse mundo os homens pertencem apenas como ornamento, ou seja, aparecem apenas e tão-somente como figurantes, como fantasmas que se movimentam em silêncio, sem terem paixões nem desejos.
Essa é a cidade ideal de Platão.
A pergunta que deve ser feita é: qual é função da sociedade que Platão pensa ilustrar?
Platão descobre-se como o próprio rei ou se identifica com um povo fantasma, que se move em silêncio, para não perturbar a riqueza do rei?
*Nota*: O texto do qual foram extraídas as citações é Platão "Todos os escritos", aos cuidados de Giovanni Reale ed. Bompiani 2014, tradução de Roberto Radice.
Marghera, 11 de junho de 2017
A tradução foi publicada 08.08.2017
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
Cod. ISBN 9788827811764
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As ideias se apresentam à razão como lampejos de intuição. Iluminam por um instante a razão, e depois tendem a desaparecer, anuladas por uma razão que propende a controlar o indivíduo. As ideias constituem emoção que se manifesta com violência, dentro de nós, e modifica a nossa descrição do mundo; uma descrição que a razão pretende reconstruir, mas que a emoção efetivamente comprometeu essa descrição. Uma nova descrição, uma nova filosofia brota dentro de nós, e nós, seja qual for o grau de cultura que temos, devemos compará-la com a cultura deste mundo em que vivemos.